sábado, 30 de junho de 2012

O Guerreiro da Verdade


                 “Essa cidade é agitada” pensava o jovem Luar, era ele mesmo de uma terra não tão distante, mas deveras distinta. Sabia que esse era o primeiro dia do resto de sua vida, e era muito sentida essa mudança, vivera sempre em um mundo onde as pessoas eram cuidadosas consigo e que lhes eram como família, os sucos, os doces e bolos de seus vizinhos tios e tias, amigos primos, primas, alguns quase irmãos. Era dessa origem que surgia ao novo lar esse jovem, que passara a ser desconhecido, em domínio que ele agora participava.
 Os dias foram passando, novos sons se apresentavam a ouvidas outrora acostumadas a ouvir o som do saber, muitas informações passaram-lhe a ser comuns, e ele inquietava-se dentro de si: “O que fazer para entender o que falam esses coadjuvantes de meu novo mundo?”, era um questionamento interno que fizera. Junto a si, vieram outros que também partiram em disgreção por aquelas terras. Passara a viver em uma pequena vila, que se encontrava dentro de uma vila, que por sua vez era parte de sua nova casa.
 “Obrigações”, dizia ele a si mesmo, tentando entender as condições que aqueles daquela região viviam. “Tudo tão diferente, tão maior, as pessoas agem como se não vivessem, quem aqui me será família?” Muitas dúvidas adentravam-lhe o pensamento, ele por sua vez buscou então conhecer os costumes locais, aquietava-se não em esquinas, mas no centro de pequenos grupos daquele amontoado de gente, os observava e com o cuidado dos que se projetaram para a vida buscava nada mudar, não estava em casa, e estava em casa...
 Passaram-se tempos e ele começara a não ver tão estranho aquele todo, os conhecia, os estudara, os medira e os pesara. Entendia com detalhes as atitudes dos seus agora locais. Gozava dos benefícios que suas conexões o trouxeram, também vazios, dúvidas.  Algo dele, que lhe era íntimo, parecia sumir. Isso lhe trazia certa angústia, como ser tão feliz em ambiente tão avesso a quem ele realmente era. Criara um ser pra si, não era externo a si mesmo, mas esse “eu” com quem ele se presenteou o fazia ir mais longe lhe dava força. Era compreensivo consigo.  Esse “eu” que só ele conhecia muitas vezes ansiava por ser visto pelos outros, e ele temia esse encontro. 
 A saudade que tinha de si mesmo o encorajava a romper com esse temor, sentia-se, por momentos, só em meio a multidões e entendia que a solidão trazia o medo, o medo da realização de seus desejos e, se enchendo da mais genuína coragem, buscou não promover o encontro desse “eu” com todo mundo externo, mas sabiamente entendeu que o todo era feito de partes, que lhes eram conhecidas.  Decidiu não pelo confronto com o que traria feridas e o machucaria, pois isso parecia fazer com que, às vezes, a felicidade partisse, e ficava apenas uma tristeza em seu peito e uma nostalgia do mundo feliz da poesia e sons, que só ele conhecia.
 Entendia que o outro não era diferente dele, e que não era preciso esconder sua verdadeira personalidade. Sabia também que os seus iguais eram tendenciosos a não transparência e passou a ser referencial do acreditava real. Surpreendia-se com a reação de muitos pela sua simplicidade em viver, em amar, cuidar, observar, interessar-se pelo outro, algo que era novo para os outros era tão comum a si. Sempre fora verdadeiro consigo, sabia de seus medos, desejos, anseios e acima de tudo sabia da realidade que o rodeava, e sabia também que isso requeria cuidados de tato, de fala e ação.
 Uma revolução ocorria, não dentro de si apenas, mas dentre os que o rodeavam, passaram a transparecer das mais diversas maneiras a apreciação que tinham por sua presença. Era simples e nem sabia como lidar com essa situação, não se orgulhava de seus atos, mas alegrava-se em saber que o mundo que ele sonhara e de onde viera era possível ser ampliado, sabia que esse mundo não seria perfeito, entendia que era composto de outros imperfeitos assim como ele mesmo. Mas como em uma das canções que ouviu na sua curta e longa experiência de vida entendia que é da diversidade que se faz o mais belo da vida, e caminhando sob a lua, ao som de uma canção que só ele entendia o que ela dizia, pensava “Tenho que ser verdadeiro, a verdade pode dar medo, mas uma vida vivida com medo é uma vida pela metade”. Transformava o medo do seu verdadeiro em sorriso nos rostos de seus companheiros na vida e fazia para si um mundo onde poderia lograr viver a excelência de evidenciar o ser imagem e semelhança do divino.